sexta-feira, 19 de junho de 2015

SOLIDARIEDADE

Familiares de criança assassinada com tiro na cabeça doam seus órgãos

Um jovem de 18 anos saiu da fila de espera para receber os dois rins da menina


Do JC Online

Tácio, pai da garota, diz que há conforto em saber que pode salvar outra vida / Bobby Fabisak/JC Imagem

Tácio, pai da garota, diz que há conforto em saber que pode salvar outra vida

Bobby Fabisak/JC Imagem

Arrasados, revoltados, cheios de dor, mas solidários.  Em meio ao sofrimento com a tragédia da morte da filha, Isabel Kelly Leandro de Souza, 3 anos, os pais da menina tomaram a difícil decisão de doar seus órgãos.   Atingida por um tiro na cabeça, no domingo (14), durante a festa de seu batizado, em Carpina, na Zona da Mata Sul, Kelly morreu na noite da quarta-feira e ainda ontem à noite seria feito o transplante de seus rins para um receptor de 18 anos.
“Não foi fácil decidir. A mãe ficou aperreada pensando que iam tirar partes da filha, mas conversamos e ela concordou. Conforta saber que podemos salvar outra vida”, declarou o pai da menina, o servente de pedreiro Tácio José Fernando de Souza, 23, enquanto aguardava, desolado, a liberação do corpo de Kelly no Instituto de Medicina Legal (IML), ontem à tarde, para enterra-lo em Carpina. Tácio é separado da mãe da garota há cerca de dois anos e não estava no batizado. “Eu pegava ela nos finais de semana. Esse batizado ia acontecer há um mês, mas foi adiado. Acabou nem acontecendo mesmo”, lamentou. 
Quem disparou contra a criança e outras duas pessoas foi Carlos Antônio de Lima, conhecido como Moreno, marido de uma tia-avó de Kelly, que está preso. Ele era convidado da festa, brigou com a esposa por ciúmes, puxou um punhal, mas foi contido e retirado do local. Depois voltou, junto com um desconhecido, atirando na intenção de acertar Israel José de Lima,  baleado na perna, e acabou atingindo também a mulher de Israel, Miriam Kelly do Nascimento Farias, 27, que passou na frente dele e morreu na hora. Kelly brincava em frente  de casa.
A coordenadora da Central de Transplante de Pernambuco, Noemy Gomes, explica que só foram retirados os rins para doação porque ela teve uma parada cardíaca e foi preciso correr contra o tempo. “Sem o coração batendo, fazendo o sangue circular, os órgãos vão deixando de funcionar”, esclarece. “Também não tínhamos doador compatível para os outros órgãos, não daria tempo de enviar para outro Estado”. 
Como a criança era pequena os dois rins precisaram ser transplantados em uma mesma pessoa. Até maio, 521 transplantes foram realizados no Estado, sendo 220 órgãos (coração, fígado, rins e pâncreas) e o restante, tecidos (córnea, medula, válvula cardíaca). “Houve um aumento de 34% no número de doações de órgão em relação ao mesmo período do ano passado, mas ainda há um índice de negativa familiar em torno de 54%”, salienta Noemy.

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