quinta-feira, 1 de maio de 2014

Vinte anos de saudade e vazio

Não foi apenas o luto com a perda do ídolo que afetou o País. Tecnicamente, a Fórmula 1 nunca mais foi a mesma para o Brasil

01/05/2014 - Flávio Batista

LIONEL CIRONNEAU/ASSOCIATED PRESS
Senna, em um momento de alegria eternizado no imaginário do brasileiro
Já se vão 20 anos. Mas parece que foi ontem. Basta falar no 1º de maio de 1994, que as lembranças surgem automaticamente. É como um dia que nunca terminou. Aquele domingo tinha tudo para ser como tantos outros. Ayrton Senna largara na pole position, assim como em outras 64 oportunidades. No comando de uma Williams, seguia na liderança do Grande Prêmio de San Marino de Fórmula 1, posição que lhe era bastante familiar. Até que, às 9h13 (no horário de Brasília), uma curva mudou o curso de toda uma trajetória. O carro de Ayrton chocou-se com a mureta da Tamburello e o restante da história é aquela que não sai da cabeça, mesmo duas décadas depois.
Até porque, a morte do tricampeão mundial de F-1 deixou um vazio. Outros brazucas continuaram a pilotar na principal categoria do automobilismo mundial, mas a genialidade verde-amarela ao volante parou ali, naquele fatídico 1º de maio de 1994. Os números acumulados em 11 temporadas jogaram uma enorme pressão em quem estava chegando. Além dos três títulos mundiais, Senna acumulou 80 pódios, 41 vitórias e 19 voltas mais rápidas.
    O primeiro a sentir na pele - e com apenas 22 anos - a cobrança por bons resultados foi Rubens Barrichello. Ele estreou na Fórmula 1 em 1993, permanecendo na categoria até a temporada de 2011. Nos 18 anos na categoria, foram 326 Grandes Prêmios disputados. Um recorde. No entanto, a permanência nas pistas durante tanto tempo não se refletiu em títulos. O máximo que Rubinho conseguiu foi dois vice-campeonatos (2002 e 2004). Durante seis temporadas, ele teve nas mãos o melhor carro da competição, a Ferrari. No entanto, o companheiro de equipe era o fora de série Michael Schumacher, que, atualmente, trava uma árdua batalha pela vida após sofrer um acidente enquanto esquiava no fim do ano passado.  A presença do heptacampeão mundial nas pistas diminuía bastante as chances de Barrichello, pois todas as atenções da equipe italiana se voltavam para o alemão. Fora isso, e aí entra a face cruel da comparação e da cobrança excessiva, Rubinho ficou com a pecha de piloto lento e de pouco arrojo, características que sobravam em Ayrton Senna.
    A partir de 2002, as esperanças do retorno aos dias de glória na Fórmula 1 passaram a ser divididas com Felipe Massa. No volante de uma Sauber, o jovem de 21 anos estreou na elite do automobilismo mundial mostrando muito talento. E a pergunta (mesmo que oculta) seguia: será o novo Senna? Em 2006, as expectativas aumentaram. Massa chegava à toda-poderosa Ferrari, substituindo Rubens Barrichello. Nesta temporada de estreia, o primeiro alento. Um brasileiro voltava a vencer em Interlagos depois de 13 anos (o último triunfo havia sido com Senna, em 1993, em um daqueles momentos de lavar a alma). Em 2008, durante alguns segundos, o torcedor verde-amarelo chegou a desentalar o grito de "É campeão", e ainda mais em casa, ao som do "Hino da Vitória". No entanto, uma ultrapassagem na última curva fez com que o inglês Lewis Hamilton ficasse com o título daquela temporada.
    De lá para cá, principalmente depois de um acidente no treino classificatório para o GP da Hungria de 2009, Felipe Massa perdeu rendimento e, também, ficou envolto naquela névoa da decepção. Fora ele e Rubens Barrichello, outros dez brasileiros correram na Fórmula 1 nestes 20 anos sem Aryton Senna - Christian Fittipaldi, Ricardo Zonta, Nelsinho Piquet, Bruno Senna, Tarso Marques, Luciano Burti, Enrique Bernoldi, Antônio Pizzonia, Cristiano da Matta e Lucas di Grassi.
    Não teve jeito, o vazio permaneceu. E, ao que parece, permanecerá por um bom tempo. O mito Ayrton Senna tem lugar garantido no alto do pódio do imaginário, mesmo daqueles mais novos que não o viram pilotar.
    SAIBA MAIS
    Renovação - Sem novos ídolos e com o fim de várias categorias de base do automobilismo nacional, estima-se que, hoje, 20 pilotos brasileiros estejam disputando campeonatos em outros países. Dez a menos que há uma década. Um número expressivo que mostra o vácuo existente na modalidade.
    FOLHA RESUME
    Há de chegar o momento em que um piloto brasileiro ganhará o título da F-1. Virão as associações com Ayrton Senna. Mas, nos 20 anos seguintes a morte do tricampeão, ainda não chegamos lá. Esse período foi marcado por sermos "inofensivos" em alguns momentos com Rubens Barrichelo. E batermos na trave com Felipe Massa.

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