domingo, 27 de abril de 2014

FESTIVAL

Protesto, entre altos e baixos, no Abril pro Rock

Johnny Hooker interrompe tributo a Reginaldo Rossi para protestar contra "desrespeito" em apresentação

do diario de pe



Bruno Albertim

Bruno Albertim

O público, tão resistente quanto empolgado, teve que esperar até as quatro da matina para ver o início do Tributo ao Rei - grande atração escalada para fechar a primeira noite do Abril pro Rock, na última sexta. Com os músicos da banda do próprio Rossi, cerca de dez intérpretes de várias fases da cena pernambucana mostraram o vigor pop da obra daquele que viveu - e morreu - sob o título de Rei do Brega. Foi um show de altos e baixos - com direito a protesto em pleno palco.
 Salvo a versão divinosa e definitiva de Isaar para Desterro e a interpretação deliciosamente canalha de Ortinho para Tô doidão, a maior parte das apresentações não foi muito além do contratual. Festejada como revelação, Aninha Martins, por exemplo, deu uma roupagem a Quatro estações digna de um desses karaokês da madrugada. China estava empolgado, mas a voz cansada comprometeu a sua Garçom.  
Quem roubou a cena no concerto-tributo foi Johnny Hooker -  e não exatamente cantando.  O cantor mandou a banda interromper os primeiros acordes de Em plena lua de mel para reclamar "do desrespeito" que sofrera, horas antes, no final de sua apresentação solo. "Nunca fui tão desrespeitado em toda minha vida. Me mandaram sair do palco. Me chamaram de veado", disse ele.
Como estava visivelmente estimulado pelo público, Johnny extrapolou o tempo previsto para seu show - uma mistura arrebatadora de música passional de subliminaridade roqueira e androginia escancarada. Depois de cantar Volta, emendou com o clássico Bandeira branca. A produção de palco começou a pressionar para que ele deixasse a cena. Acabaram fechando a cortina segundos antes de ele terminar os últimos versos.
"De fato, Johnny extrapolou o tempo. Mas nossa orientação é de que haja uma postura sempre respeitosa, vou apurar o que houve", disse o produtor Paulo André Pires, que se diz amigo e admirador do artista. "Quanto ao xingamento, se houve, isso é inadmissível em qualquer hipótese", disse ele, que reuniria a equipe para uma sessão de advertências. 
Depois do desabafo, Johnny fez um número morno, tenso - com a voz falha em vários momentos. Ao contrário da performance memorável de horas antes.
A troca perfeita de palcos, com um show começando exatamente logo após o outro, foi um dos pontos altos do APR. Organização impecável para a longa maratona de 11 apresentações. 
Entre os destaques, o show teatralmente psicodélico de Tulipa Ruiz, uma voz assombrosamente poderosa do pop brasuca atual e o romantismo meio folk de Bárbara Eugênia - que fez uma apresentação mais morninha que a de Garanhuns, ano passado, fechada inevitavelmente com sua versão turbinada de Diana. Os gringos da Sabadoh mandaram um roquezinho básico de power trio e Felipe Cordeiro, entre carimbós e i ê iê iês, transformou o salão num baile (um baile de quase um só ritmo, é verdade). 
Ao lado dos Autoramas, Renato Guerra, o dos Blue Caps, foi ovacionado como guitar hero nacional. Hoje, milhares de camisas-pretas devem lotar o APR na tradicional noite do metal.

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