MEMÓRIA
Roberto Nogueira, cantor, radialista, morre aos 68 anos no Recife
Ele foi ídolo nos anos 60, e galã da primeiroa novela de TV local
Roberto Nogueira, cantor, ator, apresentador
foto: divulgação
Roberto Nogueira, 68 anos, falecido, durante a madrugada de hoje, enquanto dormia, em sua casa, na Boa Vista, era mais conhecido como homem do rádio, por dirigir várias emissoras pernambucanas nos anos 80, e 90, (foi também o primeiro apresentador do NE TV da Globo), Nogueira foi um dos ídolos da música jovem, e galã da primeira novela produzida na televisão local, Um Amor de Colegial (1966), contracenando com Marlene Cavalcanti e Carmem Artoni: “Ia ao ar às seis da tarde, com ótima audiência. Eu também cantava a música tema da novela, que nunca chegou ao disco, nem lembro mais quem era o autor”, comenta Nogueira. Ele começou a carreira, em 1962, conforme o figurino de então, encarando o obrigatório programa de calouro, no seu caso, o do Você Faz O Show, da TV Jornal, apresentado por Fernando Castelão. Agradou tanto que foi contratado para atuar no programa de Castelão, no quadro Ídolos da Juventude, que reunia cantores e conjuntos de “música jovem”, abrangente expressão para o rock e seus derivados.
O rock nacional adquiria contornos brasileiros, com as letras de Roberto e Erasmo Carlos, as guitarras estridentes do Renato e Seus Blue Caps. Roberto ainda não era o Rei, e costumava vir ao Recife e se comportar como um plebeu. Tinha uma especial predileção pela cidade por ter sido uma das poucas capitais do país onde Louco por Você (1961) seu banido LP de estréia tocou bem no rádio: “Lembro dele, já usando aqueles terninhos sem gola, cantando no Canal 2, antes do Jovem Guarda. Uma vez, depois de um programa, fomos comer numa churrascaria que havia perto do Aeroporto. Nesta época ele já era casado, e levou os filhos. Segundinho e a filha de Roberto, escapuliram e foram parar na pista do aeroporto”, lembra Nogueira.
Os artistas contratados para cantar nas emissoras de TV recifenses (além da TV Jornal, tinha também a TV Rádio Clube, o Canal 6) cantavam os sucessos de estrelas do Rio ou São Paulo: “Quando comecei a cantar na TV, o diretor Rui Cabral achou que deveria cantar músicas gravadas por Agnaldo Rayol, bem badalado naquele tempo. A gente era acompanhado pelos grupos mais badalados daqui, Os Silver Jets, o conjunto que tinha Robertinho como guitarrista”, conta ele. Sem dúvida, o empecilho para que o iê iê iê local se firmasse era o fato de quase todos cantarem músicas alheias, que tocavam no rádio com os intérpretes originais.
A gente tinha dificuldade de fazer um repertório próprio, porque a Rozenblit só requisitava os artistas locais para os discos de carnaval, praticamente não gravava música de meio de ano. Enquanto eu estava no Recife, só gravei frevos” conta Roberto Nogueira, acrescentando: “A Rozenblit tinha uma panelinha, só gravavam os mesmos. Nelson Ferreira dava as cartas, só fazia disco quem ele queria, Claudionor Germano, Expedito Baracho, e mais uns poucos. Sempre que falava com seu Zé Rozenblit me queixava, ele dizia que não existia aquilo, mas existia, sim”.
Tanto existia, confirmando a queixa de Nogueira, que se contam nos dedos os artistas de música jovem que lançaram discos com selo da Mocambo. A cantoras Sonny Delane e Carmem Artoni, e os conjuntos Silver Jets e Os Tártaros são alguns desses poucos: “Chegou uma hora que resolvi ir embora. O que era possível realizar aqui, eu já tinha feito. Passei seis anos no Rio, e mais quatro em São Paulo. Vi que era mais fácil gravar pela Mocambo (o principal selo da Rozenblit) no Rio, do que no Recife. Cantava na noite, e fazia programas como o Rio Hit Parade, na TV Rio, de Jair de Taumaturgo, e fui convidado para gravar meu primeiro disco, um compacto, na Mocambo, gravei dois, fui produzido por João Araújo, pai de Cazuza”.
Quando Roberto Nogueira foi para o “Sul” a Jovem Guarda (o nome do programa virou o coletivo que açambarcava todos que música jovem) já havia atingido o pico e começaria a declinar, mas o ambiente ainda era generoso: “Quem escrevia os nossos arranjos eram Radamés Gnatalli, Guerra- Peixe, Moacir Santos. Quem me ajudou muito foi Fernando Lobo, pai de Edu Lobo. Mas também não era fácil. Gravava-se um disco pra ser trabalhado o ano todo. A concorrência era grande, se a gente passava um mês fora, precisava começar tudo de novo”.
O primeiro período que passou no Rio e São Paulo, Roberto se virou cantando na noite, em boates ou até mesmo no célebre Dancing Avenida, em São Paulo, um dos últimos em que havia dançarinas profissionais. O cavalheiro não levava fora, mas pagava para rodopiar com a moça pelo salão. Muitos cantores da época foram resgatados do limbo por Sílvio Santos, que deu impulso à carreira de vários deles com Os Galãs Cantam e Dançam, o musical de maior sucesso da TV depois do fim do Jovem Guarda, embora fosse um quadro dentro do programa Sílvio Santos. Ali se abrigou boa parte da turma do iê iê iê. Roberto Nogueira fazia parte de um elenco que contava com, entre outros, Ângelo Máximo, Marcus Pitter, os também pernambucanos Reginaldo Pessoa e Mozart, Paulo Sérgio, Ary Sanchez, Jerry Adriani.
Na volta definitiva para o Recife, Roberto Nogueira continuou no rádio, porém como apresentador , diretor, e gravou seu último disco, em 1992, também o primeiro CD, Clássicos da MPB – Seresta, com selo da Polydisc.
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