IMPRENSA
Morre o cronista social José de Sousa Alencar, Alex
O jornalista assinou a coluna social do Jornal do Commercio por décadas
Do JC Online
Alex é grande apreciador das artes
Foto: Alexandre Belém/JC Imagem
O jornalista Alex, que durante muitos anos participou da vida cultural e social de Pernambuco, faleceu na madrugada deste sábado, aos 87 anos, no Hospital Santa Joana, onde estava internado há pouco mais de duas semanas. Alex havia sofrido um AVC e, mais recentemente, um infarto.
José de Sousa Alencar, Alex, nasceu em Água Branca, no Sertão de Alagoas, em 1926 e foi um dos pioneiros na apresentação de programas de TV, um dos colunistas sociais mais reconhecidos do Estado, crítico de cinema, cronista e pintor. “Tive uma infância pobre, muito pobre. Minha mãe (Dona Sinhá, com quem tinha uma ligação muito forte) se separou do meu pai quando eu tinha 6 meses. Ela ensinava de manhã e de tarde e costurava à noite para manter a casa. Estudei em grupo escolar, o D. Pedro II, lá em Maceió, onde hoje funciona a Academia Alagoana de Letras. Tempos depois nos mudamos para o Recife, e eu, que pensava em fazer medicina, desisti. Então eu fiz direito na Universidade Federal de Pernambuco”, recordou Alex ao ser entrevistado pelo jornalista Jorge José B. Santana, em 2006, para o livro A televisão pernambucana por quem a viu nascer.
“À minha frente estava uma pessoa que sempre admirara pela postura mantida diante das câmeras ao entrevistar personalidades artísticas, políticas e empresariais. Sempre deixou os convidados muito à vontade para falar, e eu me sentia na obrigação de fazer o mesmo naquele momento único. Seu olhar demonstrava alegria, melancolia e paixão à medida que respondia às perguntas”, relata o autor em uma das páginas do livro.
Foi ainda na infância que surgiu a paixão de Alex pelo cinema. “Minha vida é como Cinema paradiso. Quando eu era criança, em Alagoas, tinha um vizinho operador (de projetor) que me levava para o cinema todo dia, na sessão das seis. De modo que, aos 9 anos, eu já era íntimo de Greta Garbo”, contou à jornalista Olívia Mindêlo, em 2008, quando foi homenageado com uma exposição no Museu do Estado de Pernambuco.
O jornalismo também chegou cedo à vida de Alex e ele passou pelas maiores redações do Estado. Quando ele estava no segundo ano da faculdade, começou a escrever sobre cinema no Diario de Pernambuco, assinando com o pseudônimo Ralph. “Fiz durante uns oito anos críticas de cinema. Até então, não existia televisão e a grande diversão do público era ir ao cinema. Toda semana estreavam de seis a oito filmes”, relata o jornalista no livro de Jorge José. NoJornal do Commercio, assinou por mais de cinco décadas uma prestigiada coluna social que marcou época. E ainda publicou suas crônicas na Folha de Pernambuco.
Além de se dedicar ao colunismo social, Alex transformava observações sobre o mundo à sua volta em crônicas, publicadas no jornal e reunidas em livros, comoSetenta crônicas de Alex. A atuação como cronista começou em 1964 – e a data tem mesmo uma relação com o período da ditadura no Brasil. Em sua coluna, Alex contou que o presidente Castelo Branco tinha um relacionamento com uma professora da Universidade Federal de Pernambuco. A atitude desagradou aos militares e ele acabou preso. “Foi inacreditável para mim ter passado por algo assim, porque nunca tive qualquer envolvimento com o comunismo ou nada parecido. Eu fiquei tão transtornado com essa prisão, que decidi fazer outro gênero, além do colunismo social, para mostrar meu potencial a essas pessoas. Escrever foi meu recurso para lidar com o trauma”, lembrou em 2005, ao ser entrevistado pelo jornalista Schneider Carpeggiani.
Em A televisão pernambucana... ele recorda de uma ligação do próprio Castelo Branco: “José Vander, assessor de imprensa do presidente, telefonou-me e disse: ‘Olha, o presidente Castelo Branco quer falar com você. Fique na espera porque logo mais ele vai lhe telefonar’, e desligou. Pensei que fosse trote. Depois de alguns minutos, o telefone tocou, eu atendi e era ele quem estava do outro lado: ‘Senhor Alex, aqui quem está falando é o presidente Castelo Branco’. Reconheci a voz dele imediatamente. E acrescentou: ‘O senhor sempre foi uma pessoa muito gentil, muito agradável comigo. Nessa minha vinda ao Recife eu não poderia deixar de falar com o senhor e com o médico que foi cardiologista da minha mulher, que também é uma pessoa a quem muito estimo. Eu tenho uma admiração muito grande e não esqueça de uma coisa: estou lá em Brasília, mas estou à sua inteira disposição, senhor Alex. Se o senhor precisar de qualquer coisa em Brasília, me procure, que eu atendo’”.
VELÓRIO
O velório do jornalista começou na manhã de sábado na Igreja de S. Vicente de Paulo, na Rua Dom Bosco, na Boa Vista, a mesma rua em que Alex morou na maior parte da sua vida. O sepultamento foi marcado para a tarde, no Cemitério Morada da Paz, em Paulista.
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