quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Agentes Penitenciários denunciam que armas são arremessadas no Complexo do Curado

Profissionais reclamam da falta de revistas e armas de fogo circulando entre os presos

 - Geraldo Lélis, do FolhaPE

Jedson Nobre/Arquivo Folha de Pernambuco
O uso de armas brancas dentro da unidade prisional foi evidenciado durante a última rebelião, que durou três dias
Após mais de 20 dias de denúncias de que os reeducandos do Complexo Prisional do Curado circulam livremente entre pavilhões e celas portando facões e telefones celulares e uma semana após a rebelião que vitimou dois detentos e um sargento da Polícia Militar, a vida dentro dos muros da prisão continua a mesma. A afirmação é do Sindicato Sindicato dos Agentes e Servidores no Sistema Penitenciário do Estado de Pernambuco (Sindasp-PE), feita nesta terça-feira (27) ao Portal FolhaPE. Segundo representantes da entidade, facões, foices e drogas continuam sendo arremessados por cima dos muros, da mesma forma como ocorria semanas atrás. Ainda de acordo com eles, armas de fogo também estão presentes entre os itens proibidos que circulam livremente pela unidade prisional.
    O complexo do Curado conta com 1.500 vagas para homens em ressocialização, mas comporta uma população de cerca de sete mil. Para manter a ordem em cada um dos três presídios atuam entre três e cinco agentes penitenciários por plantão. O resultado disso, segundo os agentes, é que não há como controlar o fluxo de reeducandos nas dependências dos pavilhões. Sendo assim, a figura do "chaveiro" permanece no Curado, cabendo aos próprios detentos o controle dos pavilhões, como a liberação de presos para irem a escolas ou consultas médicas.
    Cortesia/WhatsApp
    Armas foram arremessadas pelo muro do presídio
    Um agente que preferiu não se identificar enviou fotos ao FolhaPE de foices e drogas que teriam sido arremessadas nesta terça-feira. “Provavelmente esse material caiu na chamada ‘área de segurança’, entre uma cerca e outra, porque se caísse na área em que os presos ficam não teriamos como apreendê-las”, contou. Ainda segundo ele, os detentos chegam a zombar dos policiais que ficam na guarita. “Até quando tem policial na guarita, ele não pode atirar, porque tem medo de se prejudicar judicialmente. E atirar bala de borracha também não adianta mais, porque o preso até se machuca, mas consegue ir até o local pegar as coisas que foram arremessadas. Já jogaram até armas”, relatou.
    Em nota, o Sindasp-PE diz que a situação dentro das unidades continua tensa e que a visita ocorreu sem grandes problemas após uma negociação da direção dos presídios com os chamados “cabeças de área” para que contivessem o restante dos detentos. Para a entidade, essa negociação mostrou a fragilidade do Estado e que os presos reconheceram que podem conseguir mais coisas. “O que de fato ocorre é que o Estado está refém dos presos e os agentes, sem efetivo, sem equipamento e lançados à sua própria sorte”, diz a nota.

    O agente que falou com o FolhaPE denunciou também que a revista após a rebelião não foi feita a fundo. “Não fizemos a revista porque os ânimos estavam exaltados e o Estado preferiu não incomodar os presos”, disse. Ele contou ainda que o complexo não conta com bloqueadores de sinal de telefonia celular. Os equipamentos foram retirados sob a alegação de estar afetando a telefonia na vizinhança e atrapalhando os trabalhos dentro da diretoria do próprio presídio.
    Os agentes se reunirão nesta quinta-feira (29), às 17h, no auditório do Círculo Católico, no bairro da Boa Vista, Região Central do Recife, para discutir a melhoria das condições de trabalho dos profissionais e a necessidade de contratação de mais servidores.
    Medidas
    A Secretaria de Justiça e Direitos Humanos anunciou nesta quarta (28) uma lista com 17 medidas para desafogar as unidades da Região Metropolitana do Recife (RMR), sendo 12 consideradas de curto prazo, com previsão de serem concluídas em até quatro meses. Entre elas está a conclusão e entrega do Complexo Prisional de Tacaimbó, com 676 novas vagas, que deverá estar disponível para os detentos até o fim de março sob o investimento de R$ 11,3 milhões. Antes disso, deverá ser entregue em 60 dias o Presídio de Santa Cruz do Capibaribe, com capacidade para 186 reeducandos.
    Nas unidades da RMR estão previstos o fortalecimento do núcleo de inteligência e implantação do vídeo monitoramento em 150 dias, além da construção de um muro na área frontal do Complexo do Curado, na avenida Liberdade, e a instalação de alambrados no entorno superior da muralha, em 120 dias. Também está na lista a revisão de todos os equipamentos de segurança das unidades e detectores de metais.
    A médio e longo prazo estão previstas a ampliação do Complexo do Curado e do Centro de Observação e Triagem Everardo Luna (Cotel), em Abreu e Lima, ambos em seis meses, além da conclusão e entrega de unidades em Itaquitinga e Araçoiaba. Estas duas medidas deverão demorar cerca de dois anos para serem entregues.
    Antes da lista, o Governo do Estado já havia prometido contratar imediatamente 132 agentes de segurança penitenciária, todos do concurso realizado em 2009.

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