domingo, 2 de agosto de 2015

PATRIMÔNIO

Uma cidade chamada Ceasa

Centro de abastecimento e Logística de Pernambuco tem dimensões de município e vida própria dentro da estrutura econômica do Estado


Talita Barbosa

tbarbosa@jc.com.br

Ceasa cresce 9% ao ano, com a comercialização de 90.000 toneladas de produtos por mês  / Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

Ceasa cresce 9% ao ano, com a comercialização de 90.000 toneladas de produtos por mês

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

A história do Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco (Ceasa) é entrelaçada com a do comerciante Edvaldo da Silva. Aos 14 anos, enquanto trabalhava como flanelinha no local, ele viu no Centro a oportunidade de ajudar a família que passava por dificuldades na cidade de Bezerros. Apaixonado pelo comércio, órfão de pai e com mais sete irmãos, ele encontrou a grande chance de mudar de vida a partir de uma pequena banca de frutas. 
Assim como ocorreu com o negócio de Edvaldo, o Ceasa também surgiu para suprir uma demanda, em 1962. Naquela época, havia a necessidade de centralizar e expandir a comercialização de produtos hortigranjeiros, o que foi feito com a concentração de comerciantes e compradores em um mesmo local. Antes de falecer, ele deixou como legado um negócio que emprega cerca de 40 pessoas, incluindo os profissionais que trabalham na fazenda em Petrolina e na chácara em Limoeiro, locais onde é plantada boa parte das frutas vendidas pela família. Já no Ceasa como um todo trabalham 46 mil pessoas de forma direta e indireta.
“Meu pai era apaixonado por isso aqui. Ele sempre me dizia que uma negociação deveria ser boa para os dois lados. Tudo o que eu lembrar que ele queria fazer, vou fazer e dar continuidade ao que ele construiu”, conta Bruna Alves, uma das filhas de Edvaldo. O nome dele foi utilizado para batizar um dos galpões recém-construídos do Ceasa, que abriga muitos outros comerciantes como ele, que fizeram a vida nas ruas do Centro de dimensões citadinas localizado no bairro do Curado, Zona Oeste do Recife.

Circulam por lá diariamente cerca de 55 mil pessoas. Esse fluxo equivale a cerca de 35 vezes a população do bairro recifense da Jaqueira e supera a soma da população das cidades de Triunfo e Toritama. O comerciante Inácio Silva, 70 anos, é um dos vendedores mais antigos ali. Ele trabalha no Ceasa há 52 anos e conta que viu de perto o desenvolvimento do espaço, desde quando o que hoje são 580.000 m² eram apenas três galpões.“Eu fui um dos que inauguraram isso aqui. O Ceasa cresceu até a gente perder de vista.” Segundo ele, as frutas ajudam a contar a história do Centro. “Antes só tinha laranja, banana, abacaxi, agora é fruta de todo tipo, precisa nem ser da época.” Atualmente, o Centro dispõe de 1.340 boxes. 
Como um pequeno município, o Ceasa funciona com características muito próprias. Lá, o desemprego não existe, o crescimento é positivo (em média, 9% ao ano) e o fuso-horário é singular. Enquanto a madrugada é de calmaria nos outros lugares, às 3 da manhã, os habitantes do Ceasa já estão de pé à espera dos compradores, nos 48 galpões de comercialização do local. Cerca de 130 trabalhadores do interior vivem nos alojamentos do Centro e visitam suas casas aos finais de semana. De segunda a sábado, eles participam da comercialização de 22.500 toneladas de produtos. Também ajudam a movimentar toda a estrutura da mini-cidade. 
Dentro do Ceasa, há três agências bancárias, posto médico, posto 24 horas do Samu e do Corpo de Bombeiros, além de um mini-shopping. Ali, muitos buscam mudar de vida. O casal de comerciantes Severino de Oliveira e Eliete Alves conta que encontrou no Centro as oportunidades que veio buscar quando os dois decidiram sair da cidade de Cumaru, no Agreste do Estado. A ideia era se mudar de fato para o Recife, mas o meio de criar as três filhas eles encontraram de verdade na cidade na qual o Centro se transformou. “Comecei aqui carregando carro, mas sempre soube vender e negociar, aí comecei esse negócio. Antes a gente vendia na beira da calçada”, diz Severino, conhecido no Centro como ‘Bibiu da Melancia’. “Chegamos aqui em 1986. A gente chama aqui de Mamãe Ceasa, porque come todo mundo, quem já tem e quem não tem”, completa Eliete.


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