quarta-feira, 12 de novembro de 2014

Três empresas que atuavam no Nordeste são investigadas pela PF por lavagem de dinheiro

Entre as empresas está o Pernambuco dá Sorte, que teve a comercialização suspensa

- Tiago André Santos, da Folha de Pernambuco


    Uma operação nacional da Polícia Federal (PF), denominada Trevo, investigou, nesta quarta-feira (12), fraude em títulos de capitalização em 13 estados do País, entre eles, Pernambuco. No Nordeste, três grupos que atuavam em diferentes atividades ligadas ao jogo do bicho, máquinas de caça-níqueis e os títulos estão sendo investigados por lavagem de dinheiro, crime contra a administração pública e a economia popular, contraversão, gestão fraudulenta e enriquecimento ilícito. Todas as empresas tinham forte atuação no mercado. Segundo a PF, os esquemas chegaram a movimentar mais de R$ 1 bilhão no último ano.
    Divulgação/PF
    Dinheiro não era revertido para instituições beneficentes
    O primeiro grupo, com sede em São Paulo e ramificações no Nordeste, atuava na montagem e exploração de máquinas de jogo de azar. Para a construção dos equipamentos, os envolvidos importavam de forma clandestina componentes de outros países. Foram feitas investidas em várias casas na Região Metropolitana do Recife que possuíam as máquinas, algumas de propriedade de um policial militar, um dos presos na operação. O segundo grupo investigado e desbaratado foi o da empresa A Paraibana, que também atuava em todo o Nordeste. A atividade consistia na prática de descarrego, que significa um bicheiro assumir o risco de altas apostas de premiação de outras bancas. Com isso, um grande volume de dinheiro transitava em contas de laranjas.
    O terceiro esquema investigado foi o da venda de títulos de capitalização lesando os compradores dessas cartelas. A atividade era feita pelo Grupo dá Sorte, que, no Estado, operava o Pernambuco dá Sorte, com empresas em mais oito estados. Segundo a PF, a fraude consistia no desvio do dinheiro que deveria ser revertido para instituições beneficentes. A verba arrecadada deveria ter 50% dos valores encaminhados, mas apenas 1,67% do valor era, de fato, repassado. Constatou-se que o dinheiro era encaminhado ao Instituto Ativa Brasil, em Belo Horizonte, que era uma empresa do próprio grupo.
    Segundo o delegado de combate ao crime organizado da PF, Bernardo Torres, mais de R$ 500 milhões deixaram de ser encaminhados para a entidade. Por conta da fraude, a venda dos títulos da Pernambuco dá Sorte foram suspensas, inclusive as do sorteio do próximo domingo (16). Os suspeitos podem responder por crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, por contrabando, jogos de azar e lavagem de dinheiro. Somadas, as penas ultrapassam o limite de 30 anos.
    Estavam previstos cumprimento de 12 mandados de prisão temporária e 24 preventivas, 57 de busca e apreensão, 47 de sequestro de valores, bens de imóveis, automóveis e embarcações. Até o início da noite, a PF não tinha divulgado o balanço final da ofensiva. A operação contou com o apoio da Receita Federal e da Secretaria de Defesa Social (SDS).
    Grupo contesta
    Os advogados Alexandre Lustosa e Carolina Amorim, que representam a Pernambuco dá Sorte, vão recorrer das ações nesta quinta-feira (13). Eles vão entrar com pedido de habeas corpus no Tribunal Regional Federal (TRF) em favor das pessoas do grupo que tiveram a prisão temporária decretada. O jurídico também estuda entrar com um mandado de segurança para garantir o retorno das atividades da Pernambuco dá Sorte. “Só tivemos acesso ao processo depois das 16h, um tempo curto para analisar tudo. A decisão causou surpresa, pois já existem outros processos do tipo e as decisões estão sendo favoráveis às instituições. Estamos confiantes que vamos reverter a decisão”, disse Alexandre.
    Ainda segundo o representante, mais esclarecimentos serão dados após a análise de todo o material. Em nota, a assessoria jurídica pontuou também que o título de capitalização tem respaldo legal de legislação federal que rege o segmento sobre o direito de resgate ao Instituto Ativa Brasil e o sorteio de prêmios semanais, que são auditados por auditores independentes. Foi informado, ainda, que os recursos das vendas do título de capitalização beneficiam diversas entidades e ações sociais, como a AACD, a Creche Comunitária Nossa Senhora de Boa Viagem Entra A pulso, a Associação Lar do Neném, entre outros projetos.

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