quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Nascente da Bacia do São Francisco seca

Expectativa é que a água para abastecimento energético seja suprida até dezembro

- Juliana Sampaio e Raquel Freitas, da Folha de Pernambuco

O Rio São Francisco, a segunda maior bacia hidrográfica do País, começa a sentir os efeitos mais drásticos da estiagem, que desde 2011 assola o Nordeste brasileiro. Pela primeira vez na história, a principal nascente do Velho Chico, situada em São Roque, no estado de Minas Gerais, secou completamente. Embora reversível, a situação é preocupante, principalmente no que diz respeito ao setor elétrico. Se não chover em novembro - prazo climático para as cabeceiras começarem a ser abastecidas -, os reservatórios alimentados pelo rio podem registrar níveis ainda mais críticos.
Segundo relatório do Operador Nacional do Sistema (ONS), divulgado nesta terça-feira (23), o nível dos três reservatórios que abastecem o Nordeste e têm o Rio São Francisco como sua principal bacia (96,86%) registra média de 23,45%. Para Pernambuco, o nível mais preocupante é o de Sobradinho (31,79%), considerado o principal reservatório e administrado pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf). Itaparica, também da Chesf, está com 20,48%, enquanto que Três Marias, da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), opera com 5,71%.
Dentro desse panorama, a expectativa é que a garantia de água para o abastecimento energético seja suprida até dezembro deste ano. “Depois disso, se não chover, o cenário pode se complicar”, alertou o membro do Instituto Ilumina, José Antonio Feijó.
De acordo com o especialista, a situação se agravou porque não houve planejamento estratégico do uso das águas das represas, de modo que Três Marias e Sobradinho deixaram de ser utilizadas com o propósito de armazenar água no período chuvoso e, com isso, manter regularizado os reservatórios plurianualmente.
Para o ex-presidente da Chesf e atual secretário de Infraestrutura do Estado, João Bosco de Almeida, esta é a pior crise do setor hidroenergético do País, desbancando o emblemático racionamento de 2001. “Naquele ano houve racionamento, pois não tínhamos a quantidade de térmicas que hoje dispomos. No entanto, nunca houve déficit em todas as bacias do País como agora”, admitiu.
A redução das águas do Rio São Francisco também repercute nos setores secundários, como o da agricultura irrigada e o da navegabilidade fluvial. “Mesmo que sejam regulares (as chuvas) no período úmido, não irão superar os impactos da estiagem que estamos vivendo agora”, disse o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda.
Devido à problemática, Miranda defende a diversificação da matriz energética da Região. “O setor elétrico não pode depender da água do São Francisco”, alerta.
Além disso, o presidente afirmou que o Comitê busca sensibilizar o poder público e os consumidores para formatar o Pacto das Águas, com o objetivo de prevenir cenários de grandes conflitos.

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