quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Tristeza »Criança eletrocutada será sepultada em Barreiros

Raphael Guerra - Diario de Pernambuco
Publicação: 12/02/2014 

Enquanto brincava com um carrinho, sentado na porta de casa, Diogo José da Silva, 10 anos, tocou em um fio terra que estava conectado ao contador de energia. Caiu no chão, mas os vizinhos que passavam pela rua acharam que era apenas mais uma de suas brincadeiras. Somente quando uma vizinha se aproximou, percebeu que algo de errado acontecia. Diogo havia levado um choque elétrico. Foi socorrido às pressas por familiares, mas não resistiu.  

A morte de Diogo poderia ser evitada. Moradores do Loteamento Gregório Pessoa, na Muribeca, em Jaboatão, denunciaram que já haviam acionado a Celpe para vistoriar fios instalados próximos às casas, pois estariam dando choques. “Ligamos pelo menos duas vezes na última semana e ninguém apareceu. Meu tio já havia levado um choque. A Celpe sabia do perigo”, disse Joelma dos Santos, 19, vizinha de Diogo. Proprietário da casa onde a criança vivia, Natanael Lira, 50, confirmou que também telefonou para a companhia. 

Após a tragédia, técnicos da Celpe foram ao local para a realização da vistoria. A dona de casa Elizângela Santos, 36, relatou ao Diario que dois deles confirmaram que a fiação que atingiu a criança estava invertida. “Foi uma falha humana. Se o fio estivesse na posição correta, não daria choque”, lamentou a vizinha. 

O Diario procurou a Celpe para confirmar o fato, mas a assessoria se limitou a informar que as inspeções no local constataram que a caixa de medição do imóvel estava sem lacres de proteção. A nota oficial disse que “a análise preliminar indica, ainda, que o equipamento apresentava sinais de alteração na ligação, o que pode ter provocado o acidente”. O sepultamento do menino acontecerá às 10h, no Cemitério de Barreiros, na Mata Sul, onde nasceu. 

A tragédia mais recente deste tipo na RMR havia ocorrido em 9 de janeiro. Ênio Marcondes, 11, encostou em fio caído no chão, em Pau Amarelo, Paulista, e morreu. Outro episódio de repercussão foi a morte do advogado Davi Santiago após pisar num fio desencapado em Setúbal, no Recife, em junho de 2013. Ambos os casos são investigados pela polícia. Na madrugada do sábado, um morador da Imbiribeira atingiu um fio solto com sua bicicleta, mas escapou da morte No ano passado, o Ministério Público entrou com ação civil pública na Justiça para cobrar melhoria da qualidade de serviços da Celpe.

entrevista >> José Natanael da Silva, avô da criança

“A gente ligou para reclamar”

Na tarde de ontem, diante 

do local onde o neto morreu eletrocutado, o auxiliar de serviços gerais José 
Natanael da Silva, 50 anos, conversou com a imprensa. 
E não escondeu a revolta por não ter o pedido de vistoria atendido pela Celpe, o que poderia ter evitado a
tragédia.

A família já estava atenta ao perigo do fio exposto?
A gente vivia ligando para a Celpe para reclamar. A mulher do meu filho percebeu que estava dando choque no fio terra instalado pela própria companhia na parte de fora da casa onde eles moram. Era para não vazar corrente, mas estava vazando. E isso acontece em outras casas também. Foi ruim para mim, que perdi o meu neto. Agora tenho que processar a Celpe. Eles são responsáveis pelo que aconteceu. 

O senhor presenciou o momento em que Diogo levou o choque?

Não, mas vizinhos contaram que viram ele no chão. Ele estava deitado, mas acharam que era uma brincadeira. Como ele demorou, uma vizinha percebeu que algo estranho tinha acontecido. O tio dele e a avó prestaram socorro, mas ele morreu na UPA. 

Choque em placa no chão

Depois de passar uma tarde curtindo o ensaio do grupo Sambadeiras, nas ladeiras de Olinda, a consultora de viagens Cynthia Araújo, 28 anos, caminhava com uma amiga pela Rua do Sol, onde o carro estava estacionado, quando foi vítima de um choque elétrico. Ela contou que pisou, sem perceber, em uma das placas de metal da Celpe instaladas na calçada da rua e teve queimaduras de terceiro grau no pé direito. Cynthia precisou tirar licença médica de, no mínimo, 15 dias. O caso aconteceu no último domingo. A consultora afirmou que entrará com ação na Justiça contra a companhia.

“Eu estava com a sapatilha úmida, caminhando normalmente. Quando pisei na placa fui agarrada pelo choque por alguns segundos. Gritei por ajuda e minha amiga me viu jogada no chão”, relata. Depois de se levantar, ainda sem sentir as dores provocadas pelas queimaduras, percebeu que outras pessoas seguiam pela mesma direção e alertou sobre o perigo de acidente. “Um morador da localidade viu o que aconteceu e comentou que outra garota também levou uma descarga elétrica no sábado. Ele cobriu toda a área com tijolos e pedras para ninguém mais levar choque”. 

No dia seguinte, Cyhthia procurou atendimento médico porque não aguentava as dores no pé direito. O profissional que a atendeu emitiu laudo informando que por conta das queimaduras de terceiro grau ela poderá vir a passar por uma intervenção cirúrgica. Por enquanto, terá acompanhamento de especialista três vezes por semana para avaliação e troca de curativos. A consultora informou que vai registrar um boletim de ocorrência hoje na Delegacia de Olinda e que pretende ir ao IML para realizar exame de corpo de delito. “Fui prejudicada porque estou sem trabalhar”, lamenta. A assessoria de comunicação da Celpe informou, por telefone, que a companhia está apurando o caso.

Nenhum comentário:

Postar um comentário