segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Crônica – As duas faces de Basílio – Por Adilson Cardoso

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Bastou que o ultimo cliente deixasse o restaurante para que Basílio e Coité adentrassem de armas em punho. O gerente que sorria falando ao celular sobre sua chegada mais cedo e um jantar especial com a mulher, fora interrompido com um empurrão fazendo com o aparelho caísse a alguns metros. Priscila a cozinheira deixava os fundos com um suspiro de cansaço e um sinal da cruz agradecendo mais um dia de trabalho.
Adilson Cardoso
Adilson Cardoso
As portas se fecharam e o pânico foi inevitável. Basílio tinha ciência da quantidade de dinheiro que estava ali, já que além do movimento diário o Proprietário estava com os duzentos mil reais da venda de um imóvel. Mas não estava disposto a entregar tão fácil, primeiro negou qualquer existência de cofres, depois disse que não sabia de dinheiro além daquele que estava no caixa.
Coité ouvira o som de uma sirene que passava com violência do lado de fora e de mãos tremulas encostara o cano da arma na cabeça da esposa do proprietário que chorava implorando que não machucassem ninguém, Basílio se mantinha calmo e não desviava o seu foco, repetindo a mesma pergunta em tom ainda mais ameaçador. Queria o dinheiro e apontou a arma para a cabeça da cozinheira que se ajoelhou pedindo ao patrão que entregasse o dinheiro. O homem ruborizado pela covardia da moça negara novamente a chamando de desequilibrada.
Os lábios inferiores de Basílio se contraíram e automaticamente um tiro fora disparado silenciosamente da arma do bandido raspando a orelha da esposa do proprietário, o projétil fizera com que se espatifasse um quadro de uma “marinha” aquarelada coberta por um vidro numa parece distante. Neste momento todos se deitaram no chão e uma grande mala foi entregue aos marginais. Ficaram quase todos amordaçados, menos a esposa do dono que fora levada como refém, dentro do carro dela a dupla fazia planos de como levaria a nova vida de homens ricos.
Coité enquadrou com a mão direita uma casa pouco à frente dizendo como transformaria seu barraco com a parte no roubo, a mão esquerda continuava no volante guiado com precisão de piloto. Basílio fechara um cigarro de maconha e com bazofia ofereceu a Dona Ione que sentia falta de ar pelo terror vivido. Ao passar o baseado ao comparsa, levara junto à mão no bolso da jaqueta, observando a arma com menos um projétil na agulha, empunhou-a e sem dizer nada disparando contra a cabeça do motorista. Com agilidade de felino puxara para si a direção abrindo a porta para a descarga daquele dejeto. Guiou ainda por alguns quilômetros até ordenar que a mulher em desespero deixasse o carro, sem piedade fora alvejada com o restante das balas que completavam a carga.
Ás 23 horas Basílio chegava de taxi na casa humilde de muro verde com chapisco de pequenas pedras, o pequeno portão se abrira e um cãozinho branco saltara choramingando sobre ele, a saudade parecia grande pelos latidos que não cessavam. A esposa com o ventre avantajado também não poupara carinhos, dizendo que o parto seria para o próximo mês, no sofá da sala uma garotinha dormia em frente à televisão segurando um ursinho de pelúcia, no carpete os dois filhos de sorrisos largos deixaram a zona de conforto para abraça-lo e contar o que houvera ao longo da sua ausência. Depois de um longo banho, recebera nas mãos o prato predileto de maxixe com carne de sol, arroz branco e feijão tropeiro. Um telejornal da meia-noite informava sobre um crime de agora a pouco em um restaurante renomado de uma cidade vizinha. Desligaram a televisão e foram falar sobre os acontecimentos da sua ausência. Inclusive que a conta de luz havia aumentado. – Nossa mais isto é um roubo! Conclui Basílio com a boca cheia de comida olhando os números no papel. Leia mais>>>
Por Jornal de Caruaru

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