Área da inteligência artificial tenta
tornar os robôs mais sociáveis
Robótica Social reforça que a máquina não substituirá o trabalho humano
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Quando Roseli Romero assistiu à primeira versão do filme Guerra nas Estrelas, na época ainda graduanda de Ciências da Computação, ela nem imaginava que os robôs pudessem se tornar seu maior objeto de estudo e muito menos que pudessem se relacionar com os seres humanos, de modo que lembrasse o filme. Hoje como vice-coordenadora do Centro de Robótica da USP (Campus São Carlos), a professora orienta pesquisas voltadas para o desenvolvimento da interação das máquinas eletrônicas com seres humanos de carne e osso.
“A Robótica Social tenta inserir o robô no ambiente humano. É uma área desafiadora no sentido de que ela não desenvolve só a relação homem-máquina, a ideia é ir além. O desafio está em fazer com que esse robô seja independente na medida do possível e consiga reconhecer outros robôs e seres” explica a professora, que ainda destaca: para que a máquina mantenha um diálogo com uma pessoa é preciso que ela aprenda coisas básicas, como que expressões deve demonstrar para cada assunto (alegria, tristeza, seriedade, etc).
Roseli aponta que esta é uma área da inteligência artificial que não pretende que o robô faça apenas uma função mecânica e repetitiva. A ideia é que ele tenha diversos usos e surja para somar às pessoas, auxiliando nas atividades de casa, ajudando idosos informando o horário de remédios ou fazendo companhia, atuando em ambientes educacionais, como secretário pessoal ou até como guia turístico, visando a oportunidade das Olimpíadas de 2016, no Rio de Janeiro. Entretanto, embora reconheça que haja bons trabalhos, a vice-coordenadora admite que as pesquisas na área precisam avançar.
Se a interface robô-homem era apenas fruto de desenhos animados como Os Jetsons ou filmes como O Homem Bicentenário, estudos acadêmicos nos levam a crer de que a realidade está cada vez mais próxima da ficção. É o caso do projeto desenvolvido pelo mestrando Ewerton Wantroba (USP São Carlos): Valerie, uma cabeça robótica virtual capaz de retratar diversas expressões faciais e dialogar alguns assuntos. A parte gráfica do avatar foi importada em 2005 da Carnegie Mellon University (EUA) e as expressões faciais foram fruto de um estudo anterior realizado pela mestranda Valéria de Carvalho. Agora, Ewerton tem o desafio de torná-la cada vez mais real, incluindo um vasto repertório de palavras para que o diálogo seja o mais natural possível.
"A ideia é que a Valerie exerça funções de recepcionista aqui no ICMC (Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação) e que ela consiga orientar em que sala fica o coordenador, onde está acontecendo uma palestra ou comentar sobre o horóscopo do dia, por exemplo. É um trabalho braçal porque temos que incluir diversos temas e palavras-chave para que ela possa conversar sobre os mais diferentes assuntos e ao mesmo tempo um processo cíclico, porque as perguntas que não foram respondidas ficam armazenadas e voltam para incluirmos", explica. O pesquisador destaca que o sistema de reconhecimento de voz da robô é um diferencial e enfatiza que a proposta é sair do ambiente acadêmico, ganhando as salas de consultórios médicos e qualquer outro lugar onde ela possa agilizar e trabalhar em parceria com as recepcionistas humanas, não substituindo-as.
Outro projeto que tem potencial para ser aplicado fora da universidade é o robô humanoide Nao, que foi comprado em 2010 de uma empresa francesa por meio de recursos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Auxiliado pelo Kinect (sensor de movimentos fabricado para o videogame Xbox 360), o trabalho desenvolvido pelo mestrando Fernando Zuher permitiu que o robô imitasse o movimento do corpo de uma pessoa e também recebesse ordens por meio de reconhecimento de gestos. Roseli, uma das orientadoras do projeto, explica que a ideia é evoluí-lo para atividades fisioterapêuticas de crianças com dificuldades motoras já que o lado lúdico pode deixá-las mais incentivadas a repetirem os movimentos, considerados muitas vezes enfadonhos.
Embora já tenha avançado em muitos aspectos, a robótica social ainda se depara com um dilema: desmistificar a antiga ideia de que os robôs substituirá o trabalho humano. Ewerton defenda a ideia de que, embora os avanços tecnológicos estejam acontecendo cada vez rapidamente a tecnologia ainda depende do homem "nem que seja para dar um pontapé inicial, apertando um botão". "Quando for apresentar a chegada de uma nova tecnologia é preciso esclarecer de que ela chega para facilitar e não necessariamente roubar o lugar de ninguém. É tudo uma questão de como você fala, mas essa fala infelizmente não dá para programar", brinca.
fonte rede globo
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