terça-feira, 15 de dezembro de 2015

ESTIAGEM

El Niño gera desemprego na Mata Norte de Pernambuco

Geralmente, a moagem vai pelo menos até fevereiro. Em 2016, várias empresas vão iniciar a entressafra em janeiro


Angela Fernanda Belfort

Num momento que deveria ganhar com o câmbio favorável, setor sofre com seca / Foto: Guga Matos/JC Imagem

Num momento que deveria ganhar com o câmbio favorável, setor sofre com seca

Foto: Guga Matos/JC Imagem

A entressafra vai começar mais cedo para pelo menos 20 mil canavieiros que ficarão sem trabalho a partir de janeiro como consequência da seca que chegou mais forte à Zona da Mata de Pernambuco devido ao fenômeno climático El Niño. A estimativa foi feita por órgãos do setor. Geralmente, a maior geração de emprego nesta região ocorre durante os seis meses da moagem, que vão de setembro a fevereiro. Com a estiagem mais forte, as plantas ficaram menores e uma parte do canavial se perdeu. Essa nova realidade no campo vão fazer algumas usinas e fornecedores da Mata Norte – região mais seca – encerrarem a sua moagem a partir do próximo mês.
“O prejuízo será maior para os trabalhadores que passarão mais tempo dependendo do Bolsa Família e do Chapéu de Palha”, lamenta o presidente da Federação dos Trabalhadores na Agricultura de Pernambuco (Fetape), Doriel Barros. O Chapéu de Palha é um programa do Estado criado para amenizar os efeitos da entressafra. 
O setor canavieiro emprega cerca de 60 mil homens no campo, segundo uma estimativa da Fetape. Depois que acabar a moagem, continuarão trabalhando, no máximo, entre 10 mil e 15 mil homens. “Será um processo gradativo, porque a safra não vai se encerrar no mesmo dia em todos os lugares”, conta Doriel. 
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nazaré da Mata, José Pereira da Silva, diz que a situação será muito difícil no primeiro semestre de 2016.. “Todos os setores estão parados, o que complica ainda mais a situação do trabalhador. O Chapéu de Palha só começa a pagar em maio ou junho”, revela.
Nazaré da Mata assim como outros municípios da Mata Norte serão os mais atingidos pela estiagem. “Acreditamos numa quebra de safra média de 25%. Mas há fornecedores na Mata Norte que perderam 50% do plantio”, afirma o presidente da Associação dos Fornecedores de Cana de Pernambuco, Alexandre Andrade Lima. 
O único fator que pode contribuir para gerar mais emprego na Zona da Mata é a chuva, segundo os sindicalistas e Alexandre. “Se vier o inverno, as empresas e fornecedores contratarão mais pessoas para fazer os tratos culturais, que absorve menos gente do que a moagem, mas melhora”, diz.
A atual safra tinha uma boa expectativa. Os preços do açúcar se valorizaram, os fornecedores de cana-de-açúcar colocaram três usinas a mais para moer, animando a categoria a plantar mais. No começo da atual moagem (em setembro), o setor se destacou pela criação de mais de 4 mil empregos com carteira assinada no campo, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
Fenômeno quebrou cinco safras em 22 anos
O El Niño contribuiu para reduzir pelo menos cinco safras de cana-de-açúcar nos últimos 22 anos. A Zona da Mata é a região que menos sofre com as estiagens, mas quando elas são mais intensas, que é o caso das provocadas pelo El Niño – impactam na agricultura daquela região. Além da atual moagem, também foram impactadas as safras: 93/94, 99/2000, 2005/2006 e 2012/2013. 
Em meados de novembro último, a expectativa era de que a estiagem provocasse uma quebra de 9% a 12% na colheita da cana-de-açúcar do Estado, segundo um levantamento do Sindicato da Indústria do Açúcar e do Álcool de Pernambuco (Sindaçúcar-PE). Na semana passada, foi realizada uma nova estimativa do setor com a quebra variando de 14% a 20%. Ou seja, inicialmente Pernambuco iria moer 15,2 milhões de toneladas de cana-de-açúcar. Agora o total processado vai ficar entre 12,6 milhões de toneladas e 13,6 milhões de toneladas.
“Ocorreu uma diminuição das chuvas durante a safra e o verão está muito seco”, explica o presidente do Sindaçúcar-PE, Renato Cunha. Na região que apresenta uma maior precipitação pluviométrica, a Mata Sul foram registradas uma média respectivamente de 36,5 mm, 31,4 mm e de 7,8 mm em setembro, outubro e novembro últimos. Para os mesmos meses do ano passado (de setembro a outubro), foram 269 mm, 250 mm e 33 mm. 
“Nesse ambiente de produção com secas e estiagens cíclicas, precisam existir políticas agrícolas públicas como existem na Europa e nos Estados Unidos”, diz Cunha. Em ambos existe uma estrutura que minimiza as perdas aos produtores durante as secas. 
Ainda de acordo com o Sindaçúcar, o setor está operando com uma ociosidade de cerca de 20% na área industrial com a redução da colheita. A seca prejudica mais a produção de cana dos pequenos fornecedores, porque as usinas geralmente têm uma parte do plantio irrigado ou possuem reservas de água.

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