terça-feira, 19 de abril de 2016

Chuvas trazem fantasmas dos deslizamentos de volta

Morte ocorrida no domingo, no Alto José Bonifácio, colocou prefeitura e população em alerta
Área onde ocorreu desabamento foi limpa na manhã de ontem / Ashlley Melo/JC Imagem

Área onde ocorreu desabamento foi limpa na manhã de ontem

Ashlley Melo/JC Imagem

Do JC Online

O período chuvoso ainda não começou, e o deslizamento de barreira ocorrido no último domingo, no Alto José Bonifácio, Zona Norte do Recife, trouxe de volta um velho fantasma para a população que vive nos cerca de 5 mil pontos de risco de desabamentos na cidade: a das mortes decorrentes das chuvas do inverno.
Segundo funcionários da Secretaria Executiva de Defesa Civil do Recife, a maior parte dos pontos vulneráveis está localizada nas áreas de morro da Zona Norte. Os pontos mais perigosos seriam, além do próprio Alto José Bonifácio, os Altos do Eucalipto e José do Pinho, Córrego do Boleiro, Córrego do Caruá e Linha do Tiro. Na Zona Sul, as áreas com potencial de deslizamento estão localizadas nos bairros do Ibura e Jordão. Os níveis de risco, segundo a Defesa Civil, vão de um a quatro, do mais leve para o mais severo. No nível quatro, é necessária a imediata evacuação da área.
No Córrego do Euclides, onde a queda de uma barreira provocou a morte de João Agostinho da Silva Filho, de 38 anos, no domingo, o clima é de incerteza quanto ao futuro. O autônomo Evandro José da Silva mora em um dos três imóveis condenados pela Defesa Civil na área, por causa de rachaduras provocadas pelo deslizamento de terra. Notificado para que deixe a casa, diz não saber o que fazer. “Tenho esposa e dois filhos. Não posso ficar na rua”, reclama.
Na parte de cima do morro, o desempregado André Anastácio não teve a casa atingida, mas, com o deslizamento de domingo, restou apenas uns poucos palmos de terra entre a residência dele e um abismo de cerca de 20 metros, que va. “Agora vai ser esse medo toda vez que chover. Minha mãe é idosa, quase não sai de casa. Ainda não sei o que vamos fazer”, lamenta.
Na manhã de ontem, a Rua Córrego do Euclides, onde ocorreu o desabamento, continuava interditada para veículos. Equipes da prefeitura limpavam a grande quantidade de entulhos, como troncos de árvores, lixo e o material das casas atingidas. Por volta das 11h, próximo dali, no Cemitério de Casa Amarela, o corpo de José Agostinho, a vítima fatal do domingo, era sepultado. As últimas mortes registradas por causa das chuvas de inverno no Recife tinham sido em junho de 2015, ambas no bairro da Bomba do Hemetério, também na Zona Norte.
A gerente de engenharia da Secretaria de Defesa Civil, Elaine Holanda, explica que as equipes do órgão estão sempre realizando vistorias nas áreas de risco, visando conscientizar os moradores. “É comum encontrar muito lixo descartado de forma irregular nas áreas de morro, o que contribui para acidentes como o de domingo”, alerta, mostrando os entulhos encontrados no Córrego do Euclides.
De acordo com o secretário executivo de Defesa Civil do Recife, o coronel Cássio Sinomar, a estrutura da entidade já está voltada para a prevenção de desastres nas áreas com potencial de deslizamentos de barreira na cidade. Segundo ele, serão colocados 3,2 milhões de metros quadrados de lonas em cerca de 15 mil pontos na cidade. “Dos 94 bairros do Recife, 55 ficam em área de morro, o que dá cerca de 60% do território. É um percentual grande, por isso temos um esquema especial que já começa um pouco antes do inverno propriamente dito”, completa.

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