quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

CARESTIA

Feijão e arroz vão ficar mais caros ao longo de 2016

Chuvas em excesso e alta do dólar devem manter produtos tradicionais do prato do brasileiro mais caros


Luiza Freitas

lfreitas@jc.com.br

Segundo o Dieese, em 2015 o feijão ficou 29,6% mais caro no Recife e o arroz, 7% / Foto: Antônio Cruz, Agência Brasil

Segundo o Dieese, em 2015 o feijão ficou 29,6% mais caro no Recife e o arroz, 7%

Foto: Antônio Cruz, Agência Brasil


Usar o termo “feijão com arroz” como sinônimo de algo básico ou popular talvez perca um pouco do sentido ao longo de 2016. Diante de chuvas em excesso nas regiões produtoras e da alta do dólar, os dois alimentos mais tradicionais do prato dos brasileiros irão sofrer aumentos seguidos de preços neste ano. Segundo o Dieese, em 2015 o feijão ficou 29,6% mais caro no Recife e o arroz, 7%. Apesar de não acreditarem que possa haver desabastecimento, indústria e órgãos ligados ao controle de produção e distribuição afirmam que impacto da safra ruim já irá chegar à mesa no fim de fevereiro.
De acordo com a pesquisa de preços da cesta básica realizada pelo Dieese, o quilo do arroz custava em média R$ 3,03 em dezembro passado e o feijão estava por R$ 5,25. No mesmo mês de 2014 os produtos estavam por R$ 2,83 e R$ 4,05, respectivamente.
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O maior volume desses dois grãos consumidos em Pernambuco vem principalmente da região Sul, seguido do Sudeste e Centro-Oeste. No caso do arroz, 79% da produção nacional se concentra no Rio Grande do Sul. Já o feijão fica dividido principalmente entre Paraná, Minas Gerais e Goiás. “Tivemos uma redução do potencial produtivo por conta da chuva em excesso. No caso do arroz, por exemplo, o produtor precisou plantar várias vezes para poder vingar”, explica o gerente de avaliação de safras da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), Cleverton Santana.
Com a oferta comprometida, a tendência é que os preços subam ainda mais. O caso mais delicado é o do arroz, que apesar de não ter tido a maior alta de preços, conta com apenas uma safra anual e, diante do dólar alto, seus produtores tendem a priorizar a exportação. “Mas dizer que vai faltar seria muito alarmante. Mesmo que falte, podemos importar, mesmo com o dólar alto. Quando a safra quebra, a gente importa do Uruguai”, afirma o presidente da Associação Pernambucana de Supermercados (Apes), Edvaldo Lira. 
Segundo o último levantamento da Conab, houve uma expansão significativa nas exportações do arroz ao longo do ano passado. Em novembro de 2015, 186,9 mil toneladas vieram de fora do País. No mesmo mês do ano passado, foram 80 mil toneladas. Mesmo ocorrendo com países do Mercosul, a transação é realizada em dólar, encarecendo o produto que já está escasso. O mesmo relatório indica uma projeção de redução de 5,2% na safra 2015/2016 em comparação com a produção 2014/2015. Com isso, a tendência é uma redução ainda maior nos estoques, que já caiu de 868,21 mil toneladas da safra de 2013 para 666,8 mil toneladas em 2014.
Já o feijão conta com três safras anuais que, mesmo atrasadas diante das interferências do clima, permitem que as perspectivas possam mudar um pouco ao longo do ano. “No momento, o feijão (mulatinho) subiu mais. Mas, em compensação, as pessoas têm opções de feijão de todo tipo, como o preto, que não subiu tanto”, observa Edvaldo Lira.
Por outro lado, o Brasil é o único produtor do feijão mulatinho. Assim, a importação não é uma opção para um caso mais extremo de falta no mercado.
“Em uma situação normal, esses produtos sofrem uma redução do preço no período da colheita (fevereiro), quando há mais oferta. Mas, neste ano, em plena safra estamos falando de aumento de preço”, lamenta o representante comercial da Josapar (indústria da marca Tio João) em Pernambuco, Murilo Calmon. 
CHUVA X SECA
Mas, se por um lado o excesso de chuva no Sul, Sudeste e Centro-Oeste está levando feijão e arroz mais caros para as mesas dos pernambucanos, foi justamente a seca no Nordeste que tornou o Estado dependente de fornecedores tão distantes. “Normalmente o feijão, por exemplo, vinha mais da Bahia. Mas, de uns dois anos para cá, com a produção comprometida pela seca, todo mundo começa a procurar onde está mais barato. Hoje buscamos no Sul”, explica o diretor técnico do Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco (Ceasa), Paulo de Tarso. 

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