Atos de vandalismo deixaram rastros de destruição
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Daniel Cardozo e Patrícia Fernandes
redacao@jornaldebrasilia.com.br
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No dia seguinte à manifestação que reuniu 35 mil pessoas na Esplanada dos Ministérios, o cenário era de guerra. Paradas de ônibus depredadas, vidros e refletores dos prédios quebrados e marcas de destruição. Placas de trânsito e pardais também foram alvos. O local mais afetado foi o Palácio do Itamaraty, que teve mais de 60 vidraças quebradas e móveis danificados.
No início da manhã de ontem, bombeiros trabalhavam para apagar os focos de incêndio deixados no gramado da Esplanada. Quem passava pelo local não escondia a indignação com o vandalismo.
“Se as coisas não estão boas na sua casa, você não quebra a televisão ou os vidros da janela. O dinheiro de todo mundo será usado para arrumar os estragos”, disse a massoterapeuta Maria da Soledade Santos, que esperava ônibus em um dos seis pontos depredados.
Ao descer do ônibus, a secretária Ana Carolina Oliveira se surpreendeu com o estado da parada. “Não esperava que fosse acontecer algo assim”, lamentou. “A parada estava sem assento e arrumaram recentemente, mas agora ficou sem proteção contra a chuva”, disse.
Em quase todos os ministérios do lado direito da Esplanada, havia marcas de vandalismo. Vidros quebrados e pichações eram os danos com mais ocorrências. “Eles fazem besteira e o trabalho sobra pra gente”, reclamava o ajudante Lucas da Silva, que limpava as pichações no Ministério da Saúde.
Catedral
Na Catedral Metropolitana, um vitral foi rachado. O monumento foi entregue em dezembro passado após três anos de reforma e R$ 20 milhões investidos. Ao visitar a catedral, a estudante Marília Mendes se surpreendeu com os estragos, mas acredita que a violência sempre vai acontecer em movimentos assim. “Não sou a favor, mas acho que não tem revolução sem violência. Acho que também é raiva acumulada e quando você solta acaba acontecendo isso”, argumentou.
Já a empresária Carolina Castro vê os danos ao patrimônio público como obra de pessoas infiltradas. “O protesto é válido, mas tem gente se aproveitando. Quem faz isso é um animal”, desabafou.
Reforma da Catedral
Os vitrais da Catedral foram fabricados na Alemanha com uma tecnologia que impede que as peças se quebrem espontaneamente por causa da variação de temperatura, o que acontecia com os originais.
Também foram feitos a instalação do novo sistema de acionamento eletromagnético dos sinos, pintura interna e externa, restauração das obras de arte, polimento do mármore, limpeza das três esculturas dos anjos, substituição dos cabos de aço que sustentam as esculturas e a modernização do sistema de fixação.
Polícia Civil já identificou os vândalos
A Polícia Civil já identificou quatro suspeitos da depredação e invasão do Palácio do Itamaraty e deve fazer as intimações. As acusações são de dano ao patrimônio público, crime contra a União e formação de quadrilha. Vídeos de manifestantes que não concordavam com a ação dos vândalos ajudaram a investigação. Segundo o diretor-geral da Polícia Civil, Jorge Luiz Xavier, o trabalho ajudará a compensar a depredação ao patrimônio.
O Ministério das Relações Exteriores, que tem sede no Palácio do Itamaraty, divulgou nota do ministro Antônio Patriota. “Conclamo os manifestantes a observar a calma e a respeitar o patrimônio da nação. Saudamos as reivindicações legítimas de manifestantes pacíficos”.
Polícia Federal
O laudo da Polícia Federal pode ser concluído em cinco dias e poderá ser aberto inquérito para apurar a ação dos baderneiros.
O Instituto do Patrimônio Histórico Nacional (Iphan) está fazendo vistoria dos danos aos monumentos. Segundo o Detran, os danos foram no semáforo em frente ao Ministério da Previdência e pardais no local. Setenta e dois funcionários do Serviço de Limpeza Urbana recolheram quatro toneladas de lixo. De acordo com a Secretaria de Saúde, as 12 pessoas levadas a hospitais públicos tiveram alta. Entre os 55 atendimentos, um jovem de 25 anos teve traumatismo craniano.
Mais clareza na pauta e organização
Os últimos protestos mostraram que, para uma verdadeira transformação, é preciso muito mais do que revolta e desejo de mudança. É fundamental que os propósitos sejam claros e que, acima de tudo, exista organização. Conscientes da importância disso, militantes marcaram para amanhã, às 14h, uma reunião aberta a toda população. Intitulado Assembleia dos Povos, o evento tem como objetivo ouvir os anseios da sociedade dentro dos mais variados segmentos e definir aspectos claros de reivindicações.
Entretanto, a percepção não muda a base das manifestações. Elas continuam sem lideranças. É o que explica o militante Thiago Ávila, 27 anos, do Comitê Popular da Copa. “O que vamos ter são organizadores, que cuidarão mais da logística. Percebemos uma necessidade clara de organização. Vai continuar existindo a articulação de todos os movimentos”, declarou.
Tensão
Quando os assuntos são os atos de vandalismo, Thiago ressalta que o movimento não pode ser criminalizado. “Não concordamos com esses métodos usados por alguns manifestantes”, destaca.
Já para o militante Raphael Seabba, 22 anos, os atos de vandalismo fazem parte de um contexto delicado. “É uma situação tensa. As pessoas estão revoltadas”, declarou.
Na opinião do manifestante Gabriel Soares, 28 anos, as táticas usadas pelos policiais são ultrapassados e colaboram para a incidência de atos violentos . “Se jogam gás de pimenta nos olhos das pessoas, elas vão dispersar sem enxergar direito. Isso se soma à indignação e o resultado é esse que vimos”, destacou.
Abraço simbólico
Centenas de pessoas participaram de um abraço simbólico ao Palácio Itamaraty, que foi depredado durante as manifestações. O ministro das Relações Exteriores, Antonio Patriota, criticou a violência ao prédio, considerado um dos mais belos exemplos de arquitetura, mas disse que os atos de vandalismo não prejudicam a imagem do Brasil no exterior. “A imagem do Brasil é de uma democracia, de uma sociedade aberta e plural, de amantes da paz, amantes do diálogo, e isso não será afetado por um fato isolado. O que eu estou preocupado é em transmitir essa mensagem aos jovens que se manifestam: façam de maneira pacífica que suas vozes serão respeitadas e ouvidas. Destruindo o patrimônio público, vocês não serão respeitados e não terão autoridade política e moral”, diz Patriota.
Contra a violência
A violência sempre começa do lado mais forte. É o que acredita o mestre em Sociologia Marcello Cavalcanti Barra. “Toda a onda de agressões começa pelo lado que tem mais força e a força, nesses casos, é dada pelas armas. O manifestante não tem bala de canhão e, por isso, teme pela própria vida. O que acontece é simplesmente uma reação à violência praticada”, assegurou.
O especialista é enfático quando define a postura da maioria dos policiais que atuam nos protestos. “Eles agem de forma truculenta. Primeiro atiram e perguntam depois. Por isso, acredito que a violência promovida pelo manifestante é apenas uma reação”, declarou. Para ele, é essencial que sejam colocados policiais preparados para atuar nos movimentos.
Mudanças
Marcello explica as mudanças ocorridas nas reivindicações desde o início das manifestações. “A pauta da reivindicação não é mais aquela que pautava as ações do início. Essa mobilização deixou de ser por conta do aumento das passagens e passou a ser contra a violência nas manifestações. Tivemos caracterização disso com as prisões de manifestantes”, explicou o mestre em Sociologia.
Estado de defesa e de sítio
Mesmo sendo praticado por minorias, os atos de violência podem trazer muitos mais danos que a perda do patrimônio. A Constituição prevê que o presidente da República, ouvidos os conselhos da República e de Defesa, poderá decretar o estado de defesa. O objetivo é preservar e restabelecer a ordem.
Em um artigo sobre o tema, o advogado Leandro Consalter Kauche explica o que acontece caso o estado de defesa seja decretado. “É determinada a duração e as áreas abrangidas, podendo determinar medidas coercitivas (restrição de direito de reunião; sigilo de correspondência e comunicação); bem como a prisão ou detenção de qualquer pessoa que cometa crime contra o Estado”, explicou.
Outra possibilidade é o Estado de Sítio, considerado uma medida mais grave, conforme o professor de Direito Constitucional da UnB Mamede Said Maia Filho. “ Normalmente se decreta quando o País está em estado de guerra. E só pode ser decretado com autorização do Congresso”, explicou. Além disso, as restrições são ainda maiores. “O cidadão tem a obrigação de permanência, perdendo o direito de ir e vir. Os aeroportos ficam fechados, ninguém sai de casa”, explicou. Para ele, os últimos episódios não justificam a medida.
fonte jornal de brasilia
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