Por Gleide Ângelo
História de hoje mostra que machismo também está incutido dentro de algumas mulheresFoto: divulgação
Caros leitores,
No artigo de hoje falarei sobre a situação de violência que muitas mulheres sofrem, a de serem agredidas pelo companheiro e pelos familiares dele. Há diversos relatos onde a mulher é vítima constante de violência da sogra e da cunhada. Não é apenas o homem que bate na mulher, mas as mulheres da família dele também as agridem.
Dessa forma, observamos que o machismo está incutido dentro de algumas mulheres. Muitas vezes, as mães sabem que os filhos estão sendo agressivos com as suas companheiras, mas lhe dão razão pelo simples fato deles serem seus filhos. Com isso, a violência que ele comete contra a mulher passa a ser “justificada” para essa mãe.
Não são raros os casos onde as mulheres começam uma discussão com o companheiro que progride para lesões corporais na frente da sogra e da cunhada. E geralmente elas não intervêm para socorrer a mulher vítima, mas para ajudar o agressor a lesionar ainda mais. Esse relato é feito por muitas mulheres que chamam a polícia porque foram agredidas pelo companheiro e pelos familiares dele.
Débora, grávida e agredida
Um relato que me chamou atenção foi o de Débora, que estava grávida de seis meses e sofria agressões constantes do companheiro, da sogra e da cunhada. Débora é natural de outro estado e veio morar no Recife, onde conheceu Roberto (nome fictício) e se casou. Ela disse que no início a sogra e a cunhada eram amáveis com ela. Com o discurso de que Débora seria mais uma filha, a sogra a convenceu a residirem todos juntos após o casamento.
Começou o martírio de Débora. "No início do casamento éramos muito felizes, minha sogra muito amável como se fosse uma mãe. Minha cunhada me tratava como se fosse minha irmã. Fui feliz por seis meses, quando descobri que meu marido tinha uma amante há muitos anos. Fiquei desesperada e fui desabafar com minha sogra, que me disse que não tinha nada demais, que ele era homem e que eu deveria fica feliz porque eu era a esposa. Não consegui acreditar no que ouvi, e a partir daí começou o meu sofrimento. Ele chegava em casa embriagado, com as roupas sujas de batom. Eu me desequilibrava, começava a gritar, e minha sogra e minha cunhada sempre apareciam para defendê-lo, ao ponto de dizerem que ele tinha outra porque eu era uma louca, e ele estava certo."
É muito triste ver uma mulher sozinha, grávida em um ambiente hostil, sendo humilhada diariamente. Mas assim era a rotina de Débora. Ela relembra: "Para piorar a situação, descobri que a amante do meu marido era amiga da minha cunhada. Elas saíam juntas com ele, sem que eu soubesse. Eu ficava em casa e minha cunhada se divertindo com meu marido e a amante. Não aguentei. Caí em depressão e só fazia chorar. Minha sogra gritava o tempo todo que a casa era dela e que os incomodados que se mudassem. Não sabia mais o que fazer."
O tempo foi passando e chegou o dia de Débora ter a filha, uma linda menina. Os familiares de Débora não tiveram permissão para ficar com ela, pois a sogra disse que a casa era pequena e já tinha muito gente. Com isso Débora ficou isolada, com uma criança, nas mãos de agressores covardes e cruéis. Quando a criança estava com três meses, Débora teve uma discussão com Roberto que a empurrou no chão. Ela começou a gritar pedindo por socorro. Com os gritos, a sogra e a cunhada entraram no quarto e começaram a agredi-la. As agressões foram tão graves que Débora desmaiou. Com os gritos, os vizinhos chamaram a polícia que chegou ao local e socorreu Débora ao hospital, levando todos à delegacia. Na delegacia, Roberto, a sogra e a cunhada disseram que Débora havia agredido a sogra, por isso a cunhada foi em defesa da mãe, agindo em legítima defesa.
Com o depoimento de Débora no hospital, foi provado que Débora foi vítima dos agressores. Com isso todos foram autuados em flagrante delito e foram presos. Ao sair do hospital, Débora disse: "Eu estava toda machucada, não conseguia me reconhecer no espelho. Fui para casa, peguei minha filha e comprei a passagem para morar com meus pais em outro estado."
Cerca de um mês depois, o marido, a sogra e a cunhada de Débora foram soltos. Eles ainda tentaram incriminá-la, a acusando das agressões e de ter levado a criança sem autorização do pai. Mas Débora já havia procurado o Centro de Referência que tinha solicitado a guarda provisória da criança, que foi deferida pelo juiz. Hoje, Débora relembra tudo o que passou com uma grande mágoa.
"Nunca imaginei que duas mulheres pudessem agir da forma que minha sogra e minha cunhada agiram. Elas sabiam que Roberto estava praticando todo o tipo de violência comigo, e não faziam nada para evitar. Elas ficavam incitando para que ele me agredisse mais. Na realidade o que eu percebia era que elas eram mais machistas que ele."
Amigas, o que observamos nessa história são comportamentos machistas e preconceituosos de mulheres que aceitam e concordam com atitudes violentas de homens. Principalmente quando esses homens são filhos ou irmãos. Precisamos ter a consciência da importância do papel da mãe no combate ao machismo. Temos que descontruir essa cultura machista onde o homem acha que é dono e tem a posse e a propriedade da mulher. E isso começa dentro de casa, com a criação e a educação.
Se você vir o seu filho ou o seu irmão cometer qualquer tipo de violência contra a companheira dele, não apoie. Ensine que ele está cometendo um crime e que poderá ser penalizado pelo ato que está praticando. Amar um filho é lhe ensinar o caminho certo, para que ele seja um cidadão. Não apoie atitudes criminosas, machistas e dominadoras. O seu ensinamento servirá de exemplo para que o seu filho respeite a sua mulher e exerça o papel de companheiro. A grande mudança do seu filho iniciará com sua mudança de atitude. Ajude a construir uma sociedade mais justa, onde as mulheres exerçam sua plena liberdade de escolha e tenha os mesmos direitos dos homens. Ensine o caminho correto, que seu filho nunca desviará do caminho da justiça.
Você não está sozinha. Veja onde procurar ajuda:
Centro de Referência Clarice Lispector – (81) 3355.3008/ 3009/ 3010
Centro de Referência da Mulher Maristela Just - (81) 3468-2485
Centro de Referência da Mulher Márcia Dangremon - 0800.281.2008
Centro de Referência Maria Purcina Siqueira Souto de Atendimento à Mulher – (81) 3524.9107
Central de atendimento Cidadã pernambucana 0800.281.8187
Central de Atendimento à Mulher do Governo Federal - 180
Polícia - 190 (se a violência estiver ocorrendo) - 190 MULHER